26 de junho de 2023

Olá meus caros. Em recente entrevista, o competente engenheiro agrônomo e ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues, afirmou que é necessário agregar mais valor à produção agropecuária. Tal fala pode dar a entender que a agropecuária, especialmente em se tratando da produção de commodities, tem baixa agregação de valor, o que não é verdade.

Podemos e devemos trabalhar no sentido de construir ainda mais valor às nossas commodities agrícolas e isso passa por entender como o valor é criado no processo de produção.

Para a produção de um prego, de um satélite ou de uma tonelada de soja, são necessários 5 itens denominados fatores de produção: recursos naturais; tecnologia, capital, mão-de-obra e capacidade empreendedora. Cada um destes fatores é remunerado respectivamente por meio do que se convencionou denominar: aluguel; royalties, juros; salários e lucros.

Valor, por sua vez é a diferença entre os custos de produção e o preço de venda. Quando o preço de venda de um produto serve unicamente para cobrir os custos de cada um dos fatores de produção NÃO HÁ criação de valor.

Valor somente existe quando o todo é maior que a soma das partes. Em outras palavras, quando o preço pago por um produto é superior ao que foi gasto na forma de salários, juros, royalties, aluguel e lucros. 

Quando se fala em adicionar valor a um produto, entenda-se, aumentar a distância entre o que é gasto para pagar os fatores de produção e o preço que o mercado está disposta a pagar pelo produto.

É possível agregar valor de duas formas: a) diferenciando o produto de maneira a aumentar o preço que o mercado está disposto a pagar por ele ou, b) reduzindo os custos de produção mantidos os mesmos preços que o mercado quer pagar por eles. 

As commodities agropecuárias são produtos brutos e não processados com características padronizadas e que são comercializados em mercados globais e o fato de serem padronizados, fungíveis, de ampla disponibilidade e de baixa diferenciação, seus preços são cotados em Bolsas de Mercadorias e Futuros.

Então, se o que caracteriza uma commodity é indiferenciação do produto e da origem, a alternativa para um país produtor de commodities é ser mais competente que seus concorrentes e fazer mais com menos.

É aumentando o total produzido utilizando a mesma quantidade de fatores de produção que é possível reduzir os custos e aumentar a distância entre o que é pago na forma de remuneração dos fatores e o preço estipulado pelo mercado.

E é aqui que fazemos a diferença. Graças a centros de pesquisa de excelência, como EMBRAPA, IDR Paraná (Iapar, Emater), EPAMIG, uma Academia com cursos de qualidade mundial e intercâmbios de pesquisadores, o Brasil tem construído uma eficiência ímpar na produção agropecuária.

O uso de tecnologia como sensoriamento remoto, drones, inteligência artificial, análise de dados, sementes adaptadas etc., é que se torna possível aumentar a produtividade e a distância entre custos de produção e preço de mercado.

E a quantidade de valor adicionado é facilmente percebida neste dado. Enquanto a agricultura e a pecuária representam 6% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro o agronegócio, que envolve toda a cadeia de aprimoramento das commodities, corresponde a 27%.

Precisamos sim, continuar o processo de agregação de valor às nossas commodities, mas temos que ter em mente que cada tonelada de soja brasileira embarca tanta tecnologia quanto qualquer outro produto manufaturado.

Então se alguém te disser que commodities agrícolas tem baixo valor agregado, pode refutar com convicção.

Pensa nisso, Te vejo na próxima coluna e até la se cuida.   


Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR.