Olá, meus caros. A recente proposta de lei da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) sobre a redução da jornada de trabalho reacendeu o debate sobre os impactos dessa medida na qualidade de vida dos trabalhadores e na produtividade das empresas. Em um contexto de rápidas transformações econômicas, impulsionadas pela tecnologia e mudanças de mercado, a ideia é vista tanto como um caminho para o bem-estar quanto como um desafio para a sustentabilidade organizacional. Assim, discutir a proposta de forma equilibrada é essencial para encontrar soluções adequadas às peculiaridades da economia brasileira.
Veja que a produção de bens e serviços está diretamente ligada ao tempo dedicado ao trabalho. Reduzir a jornada, sem ajustes compensatórios, pode resultar em menor disponibilidade de produtos e serviços. Além disso, se os salários forem mantidos, os custos de produção aumentariam, pressionando os preços e reduzindo o poder de consumo. Uma alternativa seria contratar mais trabalhadores para cobrir o déficit de horas, mas isso dividiria a mesma produção entre mais pessoas, gerando pressão inflacionária e sem aumentar o bem-estar geral.
E a ideia de que mais tempo livre impulsionaria o consumo e, consequentemente, a economia, ignora que o poder aquisitivo é limitado. Para que a redução da jornada seja viável, é crucial aumentar a produtividade, mantendo a produção estável por trabalhador. Assim, os custos não subiriam, permitindo contratações e promovendo o crescimento econômico.
De fato, há evidências de que a redução da carga horária pode melhorar a produtividade em alguns contextos. Um estudo conduzido pela FGV em parceria com a Day Week Global, envolvendo 19 empresas entre janeiro e junho de 2024, testou uma jornada reduzida com 80% da carga horária e 100% do salário. Os resultados mostraram que 71,5% dos participantes relataram maior produtividade, além de menos exaustão, insônia e ansiedade. Mais de 80% afirmaram estar mais criativos e inovadores. Contudo, cerca de 20% enfrentaram maior pressão de trabalho, indicando que a transição pode sobrecarregar em determinados cenários.
É preciso então considerar outras alternativas. Para aumentar a produtividade, a incorporação de tecnologia é uma estratégia eficaz em setores como a indústria e a manufatura. Entretanto, em áreas como saúde, educação e atendimento ao cliente, o impacto tecnológico é limitado. A educação também desempenha um papel importante, mas seu efeito varia conforme o setor: enquanto capacitações básicas são úteis, formações extensivas podem não ser essenciais em atividades menos técnicas.
Por todas essas razões, implementar a redução da jornada de forma generalizada e por imposição legal não é recomendável. Uma transição viável deve ser gradual, priorizando setores mais adaptáveis e com políticas de incentivo para preparar o sistema produtivo sem desestabilizar a economia. Acima de tudo, o processo deve respeitar o tempo necessário para ajustes, garantindo que os benefícios superem os desafios. Pensa nisso. te vejo na próxima coluna e até lá, se cuida.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.