Economia sustentável – Rádio UEL FM 107,9
Olá, meus caros.
Um dos principais indicadores de uma economia saudável é seu equilíbrio entre a capacidade de produzir e a capacidade de consumir. Esse equilibrio é que permite um crescimento sustentável da economia. E uma das variáveis a manter este equilíbrio é a forma com que a renda está distribuída entre a população. Quanto mais for a concentração de renda em um lado da balança, mais comprometido fica este equilíbrio.
Imagina Tentar subir um prédio com sua base em desequilíbrio, é iminência de desastre. Na economia sucede o mesmo. E o Brasil, embora tenha evoluído neste quesito, ainda está muito distante das economias mais avançadas. Vejamos em que pé estamos.
O IBGE realiza de forma contínua a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) permitindo a obtenção de dados precisos e frequentes.
Por meio dos dados levantados, é possível identificar que parcela da renda fica com que parcela da população. Este cálculo é chamado de Índice de Gini.
O Indice de Gini, em alusão a seu criador, o italiano Corrado Gini, é uma medida estatística utilizada para medir a forma com que a renda está distribuída entre determinada população. Ele varia de 0 a 1, quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada no início do mês (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que o Brasil alcançou em 2022 seu melhor resultado em termos de distribuição da renda.
O índice de Gini em 2022 ficou em 0,518 situação superior a 2021 quando estava em 0,544, em função do rendimento médio mensal domiciliar per capita que apresentou elevação de 6,9% neste período saltando de R$ 1.484 para R$ 1.586.
Esta melhora é atribuída a dois fatores: aumento do valor pago pelo Auxílio Brasil e a melhora no mercado de trabalho que gerou saldo positivo em 2022 de 2 milhões de novos postos de trabalho, somente considerando emprego formal.
Embora tenha apresentado melhora, a distribuição da renda no Brasil é alarmantemente injusta. Enquanto os 5% mais pobres tiveram renda média por pessoa de R$ 87 a renda média dos 5% mais ricos foi de R$ 6.882 ou 79 vezes maior.
A metade mais pobre da população fica com 17% de toda a renda enquanto a outra metade fica com os restantes 83%. Os 10% mais pobres ficam com 1% da renda enquanto os 10% mais ricos ficam com 40,5% da renda.
E No Estado da Paraíba, onde se encontra a maior desigualdade na distribuição de renda, com o Indice de Gini em 0,558 os 10% mais pobres ficam com 0,95% da renda enquanto os 10% mais ricos ficam com 47% dela.
Os países que apresentam as melhores distribuições de renda são, pela ordem: Hungria (0,244), Dinamarca (0,247) e Japão (0,249).
Mas qqui vale um alerta o Indice de Gini precisa ser analisado com o devido cuidado, especialmente se olhado de maneira isolada. A Etiópia, um dos países mais pobres do mundo tem um índice de Gini de 1º mundo, com 0,35 melhor inclusive que dos EUA (0,39).
Mas lá, o que é distribuído de forma igualitária é a miséria. Para ser equilibrado, não basta distribuir bem, é preciso produzir muito.
Uma reforma tributária com impostos progressivos é parte fundamental na busca de equilíbrio, mas há outras causas deste desequilíbrio que precisam ser estudadas e contempladas.
Isso fica evidente quando comparamos os resultados de Santa Catariana com a Paraíba. Sob o mesmo regime tributário, SC tem um Gini de 0,419 (melhor do país) contra os 0,558 de PB (o pior do país). Então, não esperemos conseguir este equilibrio somente com reforma tributária .
Pensa nisso. Te venho na próxima coluna e até se cuida.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.