Olá, meus caros.
O aumento da produtividade do trabalho face ao uso intensivo de tecnologia, não só permite, como exige que a jornada de trabalho seja reduzida.
Não é coerente imaginar a possibilidade de aumento na oferta de bens e serviços proporcionado pela adoção de padrões de produção baseados na automação e na inteligência artificial se não houver a contrapartida na possibilidade de consumo.
E para garantir que todos tenham trabalho e renda é sensato que caminhemos para a redução do comprometimento de tempo laboral, prática que começa a ser avaliada ainda este ano no Brasil, e é sobre esse tema a coluna de hoje.
A adoção de tecnologia ao longo da história tem proporcionado avanços significativos na produtividade e eficiência dos processos com consequente redução na jornada de trabalho e não só por força da atuação sindical, mas por interesses patronais.
Henry Ford, já em 1926, percebia que reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais não só aumentava a produtividade como também permitia que as pessoas tivessem mais tempo livre para o lazer – o que era essencial para aumentar as vendas de carros.
Portanto, os ganhos vêm nos dois sentidos – aumenta a produtividade do trabalho humano e aumenta a disponibilidade de tempo para fazer o consumo.
E observe a necessidade de simetria entre produção e consumo. Se a adoção tecnológica que aumente a produtividade não vier acompanhada da igual possibilidade de consumo, a conta simplesmente não fecha e o sistema não se mantem em pé e em equilíbrio.
Neste sentido nascia em 2018 a 4 Day Week Global, uma comunidade estabelecida na Nova Zelândia, sem fins lucrativos e com o propósito de fornecer uma plataforma para pessoas e empresas que estão interessadas em apoiar a ideia da semana de 4 dias como parte do futuro do trabalho.
E com o objetivo de entender melhor o impacto de tal proposta, esta organização levou avante um experimento piloto no Reino Unido envolvendo 61 empresas e 2.900 trabalhadores.
O piloto foi um teste de 6 meses de uma semana de 4 dias, sem perda de pagamento para os funcionários, sob a coordenação de pesquisadores acadêmicos independentes do Boston College e da University of Cambridge and Autonomy
Com a aplicação desta prática, a receita das empresas participantes aumentou em média 35% na comparação com período similar em anos anteriores, a rotatividade dos funcionários caiu 57% e 92% das empresas participantes do piloto passaram a adotar a semana de 4 dias.
E para 39% dos empregados o resultado foi a redução do stress; 71% acusaram redução dos sintomas de bournout, mais da metade acharam mais fácil conciliar vida pessoal e profissional e 15% de quem participou da experiência não quer voltar para a semana de 5 dias qualquer que seja o aumento salarial concedido.
A experiência será agora replicada no Brasil, em uma parceria entre a brasileira Reconect Happiness at Work e a 4 Day Week , com inicio previsto para junho e dezembro deste ano e expectativa de reunir 40 empresas de distintos setores.
Independente dos resultados, que penso serão no mesmo sentido ou até melhor que os obtidos no Reino Unido, entendo que é inevitável que caminhemos para a adoção da redução da jornada de trabalho face a adoção de tecnologias que multiplicam a oferta de bens e serviços.
Pensa nisso. Te venho na próxima coluna e até se cuida.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.