09 de setembro de 2024

2024/09/09

Olá, meus caros. Tive um professor no antigo ginasial, de nome Wander, que insistia em dizer que a física era romântica. Nunca consegui chegar à conclusão de que a física seja realmente romântica, mas posso dizer com segurança que a economia é apaixonante. Simplesmente porque ela nos ajuda a entender como o mundo funciona, explicando as decisões de pessoas, empresas e governos e como essas escolhas impactam a sociedade.

Na coluna de hoje estou muito técnico, mas se você tiver paciência de escutá-la até o fim, tenho certeza de que entenderá o porquê a economia é apaixonante.  E começo falando sobre outro economista - Arthur Okun, falecido em 1980, economista americano, que entre outras contribuições conseguiu descrever a relação inversa que existe entre taxas de desemprego e crescimento econômico, conhecida como a Lei de Okun.

O conceito é bem intuitivo - um aumento na quantidade produzida deve vir acompanhado de aumento de contratação de trabalhadores e vice-versa. Okun se propôs a calcular o valor numérico que reflete esta relação, chamado de Coeficiente de Okun.

O coeficiente de Okun mostra a variação da taxa de desemprego em resposta a uma variação no crescimento do PIB acima de seu crescimento potencial. Por exemplo, para manter a taxa de desemprego estável a economia precisa crescer 1%, mas cresceu 5%, ou seja, cresceu 4% acima de sua taxa potencial.

Saber deste coeficiente ajuda demais os formuladores de políticas públicas, porque define o quanto é preciso crescer para alcançar determinada meta de desemprego, mas também permite projetar qual será o crescimento do PIB a partir da queda na taxa de desemprego.

Mas há um outro indicador por traz deste conceito, que é a produtividade, ou seja, o quanto se consegue produzir com determinada quantidade de trabalhadores. Quanto menor o coeficiente de Okun mais produtiva é esta mão-de-obra.

O PIB do Brasil precisa crescer algo como 2% para manter a taxa de desemprego. Cresceu 2,5% e a taxa de desemprego caiu 1,1% entre o 1º semestre deste ano na comparação com o 1º semestre do ano passado. Um coeficiente de -2,2, o que significa que para derrubar a taxa de desemprego em 1% a economia deve crescer 0,5% acima dos 2% que é a taxa que mantem o desemprego estável.

Mas agora comparemos com outras economias. O coeficiente de Okun da Espanha é de -0,85, dos EUA -0,45 e da Alemanha de -0,3. Isso significa que o trabalho no Brasil é 2,6 vezes menos eficiente que Espanha, 4,8 vezes menos que EUA e 7 vezes menos que Alemanha.

Veja: A produtividade do trabalho depende de três coisas: tecnologia e inovação nas empresas, qualificação e educação na formação profissional e disponibilidade de crédito fácil e barato para os investimentos.

Está aí a pauta de trabalho a ser desenvolvido pelas empresas, pelas famílias e pelos governos. Viram? É por essa capacidade de entender a realidade que considero a economia apaixonante.

Pensa nesta pauta. Te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.


Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.