Artigo no Jornal Valor Econômico deste último final de semana aborda o tamanho do impacto econômico que a inusitada  transferência de riqueza de uma geração para outra vai proporcionar na economia dos próximos 20 anos. 

Este fenômeno que está sendo chamado ‘great wealth transfer’ é caracterizado por três particularidades: o enorme volume de recursos envolvidos, o tamanho relativo das populações e a diferença de perfil entre quem transfere e quem recebe.

Embora o foco do artigo esteja geograficamente centrado  nos EUA e Europa, esta análise se presta perfeitamente como parâmetro para entender as repercussões também em nosso país.

Uma enorme riqueza acumulada...   

Ao atingir a idade adulta, cada geração recebe uma parte do patrimônio acumulado pelas gerações que a precederam. No entanto, a transferência de riqueza que se iniciou no final da última década é a maior já registrada.

... por uma geração ímpar ...

Os ‘baby bummers’, aqueles nascidos após o final da 2ª Guerra Mundial até 1964, formaram a mais numerosa geração da história e com maior nível educacional na comparação com as gerações anteriores. Estes dois efeitos ajudam a entender a enorme acumulação de riquezas obtida por esta geração.

... , que mudou a sociedade...

Não só foram capazes de acumular riquezas, mas também protagonizaram um impacto significativo na sociedade com a revolução sexual, a luta pelos direitos civis e o movimento hippie.

..., mas envelheceu e deixa o legado.

Agora chega o momento de passar o bastão e, considerando EUA, Europa e Asia, será um grupo maior entregando um patrimônio enorme e em mãos relativamente menos numerosas, para a próxima geração a chamada geração ‘millennials’

A geração ‘millennials’ ...

São aqueles nascidos entre 1980 e 1996, que poderão receber algo como US$ 150 trilhões de herança, exatamente no ponto em que estão no auge de seu potencial produtivo e capazes de mudar radicalmente a alocação de capital no planeta.

... pensa diferente ...

A guinada na forma da aplicação deste capital é fruto de uma geração que nasceu e foi criada na era digital, cresceu escutando sobre as mudanças climáticas, sobre responsabilidade social e sobre diversidade em todas as suas variantes.

... e parece que fará diferente ...

O Relatório ‘Global Wealth Research Report’ da Ernest&Yang de abril de 2023 pesquisou o desejo e o comportamento de clientes de gestão de fortunas e revela que a geração Millennials quer retorno tendo em conta a ética e a sustentabilidade em seus investimentos.

..., com mais arrojo...

A vocação empreendedora é mais acentuada entre os Millennials, e querem disponibilidade de serviços digitais, mas tem preferência por gestores com equipes que apresentem diversidade de raça e gênero.

... e altruísmo inteligente.

O artigo do Valor Econômico faz referência a publicação ‘Filantropia da Próxima Geração’ do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – Idis, onde esta nova geração troca a doação ‘assistencialista’ por doações voltadas a obtenção de retorno social e/ou ambiental.

Em terras tupiniquins ...

Embora o centro do artigo esteja voltado a transferência de grandes volumes financeiros, especialmente em países desenvolvidos, vejo nos nossos Millennials a mesma gana empreendedora, a mesma preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade, a mesma preocupação com justiça social e defesa da igualdade de gênero, de raça e de oportunidades.


... devemos esperar o mesmo.

Rogo que minha percepção esteja correta e que esta nova geração dos 40 anos, consiga corrigir boa parte dos erros que eu e minha geração cometemos.


     

Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.