https://radio.uel.br/coluna/15133/2023/05/15

O aumento da produtividade do trabalho face ao uso intensivo de tecnologia, não só permite, como exige que a jornada de trabalho seja reduzida.

Não é coerente imaginar a possibilidade de aumento na oferta de bens e serviços proporcionado pela adoção de padrões de produção baseados na automação e na inteligência artificial se não houver a contrapartida na possibilidade de consumo.

E para garantir que todos tenham trabalho e renda é sensato que caminhemos para a redução do comprometimento de tempo laboral, prática que começa a ser avaliada ainda este ano no Brasil, conforme conta reportagem de Adriana Fonseca para o Valor Econômico da semana passada (11). 

Não é de agora ...

A adoção de tecnologia ao longo da história tem proporcionado avanços significativos na produtividade e eficiência dos processos levando à redução na jornada de trabalho e não só por força da atuação sindical, mas por interesses patronais.

... e não é por bondade...

Henry Ford, já em 1926, percebia que reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais não só aumentava a produtividade como também permitia que as pessoas tivessem mais tempo livre para o lazer – o que era essencial para aumentar as vendas de carros.

..., mas porque traz resultados...

Os ganhos vêm nos dois sentidos – aumenta a produtividade do trabalho e aumenta a disponibilidade de tempo para fazer o consumo resultante do aumento de bens e serviços disponíveis.

... e mantem a coerência do sistema.

Observe a necessidade de simetria entre produção e consumo. Se a adoção tecnológica que aumente a produtividade não vier acompanhada da igual possibilidade de consumo, a conta simplesmente não fecha e o sistema não se mantem em pé e em equilíbrio.

O movimento começou ...

A 4 Day Week Global é uma comunidade estabelecida na Nova Zelândia, sem fins lucrativos nascida com o propósito de fornecer uma plataforma para pessoas e empresas que estão interessadas em apoiar a ideia da semana de 4 dias como parte do futuro do trabalho.

... e vem sendo testado ...

Com o objetivo de entender melhor o impacto de tal proposta, esta organização levou avante um experimento piloto no Reino Unido envolvendo 61 empresas e 2.900 trabalhadores.

... com apoio da academia...

O piloto foi um teste de 6 meses de uma semana de 4 dias, sem perda de pagamento para os funcionários, sob a coordenação de pesquisadores acadêmicos independentes do Boston College e da University of Cambridge and Autonomy

... e resultados positivos para as empresas ...

Com a aplicação desta prática, a receita das empresas participantes aumentou em média 35% na comparação com período similar em anos anteriores, a rotatividade dos funcionários caiu 57%. Como resultado 92% das empresas participantes do piloto passaram a adotar a semana de 4 dias.

... e para os empregados.

Para 39% dos empregados o resultado foi a redução do stress; 71% acusaram redução dos sintomas de bournout, mais da metade acharam mais fácil conciliar vida pessoal e profissional e 15% de quem participou da experiência não quer voltar para a semana de 5 dias qualquer que seja o aumento salarial concedido.

Agora será testado no Brasil ...

A experiência será agora replicada no Brasil, em uma parceria entre a brasileira Reconect Happiness at Work e a 4 Day Week, com início previsto para junho e dezembro deste ano e expectativa de reunir 40 empresas de distintos setores.

... e não imagino outro cenário.

Independente dos resultados, que penso serão no mesmo sentido ou até melhor que os obtidos no Reino Unido, entendo que é inevitável que caminhemos para a adoção da redução da jornada de trabalho face a adoção de tecnologias que multiplicam a oferta de bens e serviços.


Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor na UTFPR. Escreve às segundas-feiras.