A reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) da semana passada (2) definiu que a taxa Básica de Juros aplicada à economia pelos próximos 45 dias será de 12,35%, uma redução de 0,5% na taxa que vigorou nos últimos 12 meses.

Mas se é sabido que o Brasil lidera o ranking das taxas de juros reais das 40 maiores economias mundiais, por que os novos economistas indicados pelo atual governo ao Banco Central (BC) não sugeriram um corte maior na taxa, talvez de 3%, que derrubaria nossa posição para uma ‘honrosa’ 5ª colocação?      

A aptidão para gerar ...

O setor produtivo, tem na sua essência a necessidade de crescer, produzir cada vez mais, gerar emprego e renda, tanto na forma de salários quanto de lucro, e é natural que seja contrário a qualquer medida que crie obstáculos a esta sua vocação.

... se opõe a contenções ...    

Por essa razão não se espere do setor produtivo outra posição que não seja a defesa intransigente por uma taxa de juros condizente com seu ímpeto de crescer. Mas por vezes, essa gana é imediatista e não se dá conta que é preciso refrear agora para garantir um crescimento de longo prazo.  

..., mas a métrica é outra ...

É por essa razão que a régua utilizada pelo COPOM não é a que compara o valor dos nossos juros reais com o de outras economias, mas sim a régua que mede a evolução dos preços na economia.

... e de horizonte mais amplo. 

Assim como a mesma dose de um medicamento pode ser adequado a um organismo, mas insuficiente a outro, também cada economia tem um comportamento diferente em relação às taxas de juros. A métrica não é pelo tamanho da dose, mas pelo resultado que traz.

A causa da doença ...

Os preços podem subir porque a matéria prima está mais cara ou porque há um consumo maior, portanto, fruto, invariavelmente de desequilíbrio entre disposição por demandar e disponibilidade de produtos.

... a saúde econômica desejada ...

O próprio governo, por meio do Conselho Monetário Nacional (CMN), define qual é a meta de inflação para um determinado período. Neste ano o centro da meta é de 3,25%, podendo oscilar entre 1,75% e 4,75%.


... e porque mantê-la saudável.

Este controle da inflação é fundamental para permitir a estabilidade da moeda, condição essencial para o desenvolvimento econômico e social sustentável de qualquer país.

O remédio prescrito ...

Para frear esse excesso de consumo, na medida que os preços começam a apresentar altas acima do esperado, o BC aumenta a Taxa Básica de Juros, tornando mais atrativo ganhar emprestando para o governo do que investindo ou desfrutando.

... quem o aplica ...

Vale lembrar que, embora seja o CMN quem defina os valores para a inflação, a competência para mantê-la dentro destes parâmetros não é dele, mas sim do Banco Central, que tem a responsabilidade de mantê-la dentro das faixas pré-estabelecidas.

... e define a dose...

A cada período de 45 dias, o BC reúne seus 9 diretores em um comitê (COPOM), onde é discutida se a taxa de juros vigente está cumprindo seu papel de manter a estabilidade de preços.

... com base em métricas.

Caso a inflação dê sinais de elevação, a decisão será por aumentar os juros, retirando dinheiro em circulação para conter a pressão nos preços. Por outro lado, se a inflação está alinhada com o que foi definido pelo CMN, é possível abaixar a taxa de juros.

Capacidade técnica...

Os indicados pelo atual governo para comporem a diretoria do BC, Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização), tem esta clareza e sabem que devem olhar para o comportamento da inflação e não para o tamanho dos juros reais.

... é antídoto à demagogia ...

Independente da indicação, deve sempre prevalecer a decisão técnica e foram elas, que adotadas de forma oportuna e na dose correta, que permitiram o controle da inflação e a possibilidade de iniciar um ciclo de redução da taxa básica de juros.    

... e traz coerência nas decisões.

Economistas preparados, à frente de um banco Central independente, é condição para um desenvolvimento econômico sustentável, e explica por que não se derruba a taxa de juros de forma casuística.


Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.