A exatos 30 anos, era instituído oficialmente a nova moeda brasileira, o Real (R$) como parte do ‘Programa de Estabilização Econômica’, lançado em fevereiro de 1994.
Contava eu 32 anos de idade, já tendo passado por 7 diferentes moedas, 6 tentativas de controle da inflação, e era o 4º mês que meu salário vinha discriminado em URV (Unidade Real de Valor).
O Partido dos Trabalhadores, por motivos políticos, pelo meu prisma, torcia por mais um fracasso, mas havia um quê de esperança, de que desta vez poderia dar certo. E resultou porque paramos de financiar a dívida pública com emissão de moeda.
Era um caos econômico ...
A projeção de inflação para todo 2024 está próximo a 3,9%, mas a 30 anos, convivíamos com uma inflação de 40% ao mês, e nos 12 meses que antecederam o lançamento do Plano Real a inflação acumulava 5.000%, mas o recorde ainda era o de 4 anos antes, de 83% ao mês, de acordo com o IPCA.
... que exigia malabarismos ...
Se o pagamento iria cair na segunda-feira, na sexta-feira estávamos todos no supermercado, tentando fazer a compra para o mês inteiro, tomando a mercadoria diretamente das mãos dos remarcadores de preços, função das mais demandadas à época e pagando com cheque, que esperávamos, tivesse fundos, quando chegasse ao banco.
... e onde a origem do problema ...
O grande promotor do processo inflacionário era o próprio governo que, para pagar gastos maiores que sua arrecadação, imprimia mais moeda. Sem disciplina fiscal, falta de alternativas de financiamento e tentativas de estimular a economia na marra, deram origem à hiperinflação e a instabilidade econômica.
... estava no próprio governo ...
Enquanto a União arrecadava em tributos 16% do PIB, seus gastos eram 2 a 3% maiores. Esta diferença era coberta com emissão de mais moeda. Ora se a quantidade de bens e serviços continua a mesma, aumentar a quantidade de moeda, leva automaticamente a elevação nos preços.
... que criava um imposto inflacionário.
Se seu salário permanece o mesmo enquanto os preços sobem, você poderá comprar menos. Ao financiar seu déficit emitindo mais moeda, o governo retira dinheiro de todos, de forma menos explícita que aumentando impostos. Além disso, a inflação permite que a culpa pelos altos preços seja atribuída aos comerciantes, mascarando a verdadeira causa.
Assumindo a realidade ...
O Plano Real teve sucesso onde os outros fracassaram por várias razões: transparência e comunicação eficazes, abordagem gradual e estruturada, uso da URV para desindexar a economia, paridade inicial do Real com o dólar, mas o que foi fundamental para seu sucesso foram as sólidas políticas fiscais e monetárias.
... com políticas fiscais austeras ...
O governo implementou medidas rigorosas para controlar os gastos públicos e reduzir a diferença entre o que arrecadava e o que gastava, e estabeleceu metas de superávit primário para impedir um estouro da dívida pública.
..., políticas monetárias sérias ...
Entre as medidas do Plano Real estava o impedimento do Banco Central (BC) de comprar os títulos da dívida pública, operação esta que era feita com a impressão de mais moeda e, ao mesmo tempo, deu autonomia para que o BC conduzisse a política monetária com foco no controle da inflação.
... colhemos os resultados.
A inflação média mensal nestes últimos 30 anos foi de 0,59% de inflação com pico de 3% em novembro de 2002. Uma cesta básica custava em julho de 1994 R$ 70,76 e o salário-mínimo era de 64,79. A mesma cesta básica custa hoje R$ 570,25 e o salário-mínimo está em 1.412,00. Estabilidade leva ao crescimento econômico e ao bem-estar social.
É preciso combater o casuísmo ...
Nossa experiência histórica recente de políticas econômicas irresponsáveis mostra que é perfeitamente possível reverter as conquistas da estabilidade econômica, levando a inflação alta e incertezas que afetam o crescimento sustentável e a confiança do mercado.
... para impedir retrocessos.
Não permitamos, qualquer que seja o governo, a adoção de políticas de aumento de gastos sem a correspondente arrecadação, que se flexibilize regras fiscais, ou que seja considerado natural pressionar o Banco Central achando que pode estimular o crescimento econômico sem o devido controle inflacionário.
Isso é um desserviço ao país.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.