23 de setembro de 2024

Olá, meus caros. É importante incluirmos no nosso cotidiano de interesse, algumas informações e notícias econômicas que, na maioria das vezes passam despercebidas, de maneira que possamos construir nosso próprio entendimento e evitar que fique com a razão aquele que grita mais alto. Bom, na semana passada, os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos adotaram posturas contrastantes em relação às suas respectivas políticas monetárias.

No Brasil, o Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25%; em contrapartida, o Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA, optou por uma redução de 0,5% na sua taxa. As motivações por trás dessas escolhas nas duas maiores economias das Américas – o Brasil, 8ª maior economia, e os EUA, a 1ª – oferecem uma oportunidade importante de discussão sobre a razão de tais medidas.

Os bancos centrais do Brasil e dos EUA, representados respectivamente pelo Comitê de Política Monetária – COPOM e pelo Comitê Federal de Mercado Aberto – FOMC, adotam reuniões a cada 45 dias para definir suas políticas monetárias.

Embora absolutamente independentes um do outro, várias destas datas coincidem. Neste ano, das 8 reuniões, 4 foram na mesma data, entre elas a da semana passada, e no ano que vem, 7 das 8 reuniões estão agendadas para os mesmos dias.

Afora esta coincidência (ou não), a principal tarefa destes Bancos Centrais é garantir a estabilidade econômica do país, especialmente assegurando que suas moedas mantenham seu poder de compra, ou seja – tenham a inflação sob controle.

E os governos estabelecem órgãos específicos para essa tarefa, pois o controle da inflação é essencial na medida que ela está na raiz dos desequilíbrios econômicos, pois ele provoca a perda de poder de compra, abala a confiança na moeda, desestrutura o sistema produtivo e desencadea desemprego, recessão e caos econômico.

A inflação ocorre quando a quantidade de dinheiro e a capacidade de compra de quem gasta (famílias, empresas e governo) aumentam de maneira mais rápida do que a produção e oferta de bens e serviços, desequilibrando a relação entre demanda e oferta.

Aumento dos gastos do governo, elevação dos investimentos das empresas, e redução nas taxas de desemprego são fatores de pressão sobre os preços, porque, embora vá gerar no futuro aumento na produção, no presente não há produto para atender a todos, e o preço das coisas passa a subir.

Mas, quando a produção aumentar, isso não resolve? Não dá tempo. Se esperarmos o ajuste natural, o estrago já estará feito. O remédio precisa ser aplicado preventivamente, antes que o paciente, no caso a economia, se deteriore.

E da mesma forma, quando a economia enfrenta retração, como no caso do aumento do desemprego, redução drásticas na demanda por bens e serviços e desaceleração do o crescimento, os bancos centrais, em resposta, reduzem a taxa de juros, tornando o crédito mais acessível e incentivando o consumo.

No caso do Brasil, o Copom decidiu elevar a taxa de juros devido a forte queda no desemprego e pelo aumento nos gastos do governo. A recuperação do mercado de trabalho elevou o consumo interno, pressionando os preços, enquanto os gastos públicos aumentaram o risco inflacionário.

Já nos EUA, o FOMC reduziu a taxa de juros devido à desaceleração da economia, com crescimento moderado e preocupações sobre crises globais e aumento na taxa de desemprego. O corte visa estimular o crédito, incentivar o consumo e prevenir uma recessão iminente.

O papel dos Bancos Centrais é exatamente esse. É como o de um anfitrião cuidadoso em uma festa: se o clima está morno, ele libera a bebida, mas, se a euforia começa a sair do controle, ele retira o ponche da mesa.

Claro, mais bebida, tudo bem. Agora, pedir para os convidados aceitarem retirar o ponche numa boa... bem, aí já é esperar demais!

Pensa nisso, te vejo na próxima coluna e até la se cuida.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.