21 de junho de 2021

21-06-2021 ECONOMIA_PARA_TODOS

Olá meus caros. A crise desencadeada pela COVID-19 acelerou o uso de novas tecnologias de automação na indústria, de inteligência artificial e o processo de digitalização nos negócios. Os aplicativos se tornaram presenta rotineira entre consumidores e trabalhadores.

Claro, diante da dificuldade de abrir lojas físicas, os negócios investiram mais nas vendas a distância. O problema disso tudo é que a adoção tecnológica fecha uma quantidade enorme de postos de trabalho.  A influência maior do processo de automação pode ser dramática entre trabalhadores da indústria. Um estudo recente da consultoria McKinsey aponta que mais de 100 milhões de pessoas poderão ter que mudar de ocupação ao longo da próxima década.

Selecionei este tema para a coluna de hoje, onde aponto para a irreversibilidade do processo e a forma como lidar com ele.

Começo afirmando que a luta contra o processo de tecnificação está fadada ao fracasso, pelo simples motivo que os consumidores, que somos todos nós, a desejamos e respondemos a ela com entusiasmo. E não é necessário um plebiscito para chegar a esta conclusão.

Veja você diante de um produto de R$ 80 e outro similar de R$ 60. Sua decisão como a de qualquer consumidor é racional e será pela opção mais barata, o que é lógico pois vai te permitir utilizar a diferença para atender outras necessidades, comprar outros produtos.

Na maioria das vezes, ninguém pergunta se o preço mais barato foi o resultado de uma produção  realizada por robôs. E mesmo que pense nisso, dificilmente optará pelo mais caro em razão de ter sido produzido por uma máquina.

Este comportamento é que faz com que a indústria precise optar por modelos de produção que sejam cada vez mais eficientes e que levem a redução dos custos. Empresas que se atrasarem na adoção de tecnologias de maior produtividade fatalmente fecharão as portas. 

Estas novas tecnologias, aumentam a produtividade mas, reduzem o número de trabalhadores. Como importamos a maior parte desta tecnologia na forma de máquinas, computadores e softwares, os postos de trabalho fechados aqui, são criados lá fora, causando um desemprego setorial e consequente rebaixamento dos níveis nacionais de ocupação.

Para o industrial é questão de sobrevivência a adoção tecnológica, e para o consumidor questão de acesso a bens e serviços ao qual ele não tinha antes e que agora passa a ter a possibilitade de compra-los em função da redução nos preços. E o trabalhador? É o único perdedor neste processo?

Pois é. É mais ou menos evidente que as máquinas estão substituindo trabalhos repetitivos e estafantes, privilegiando as atividades que exijam a criatividade humana, o que é um ganho, com certeza. No entanto, uma quantidade significativa de trabalhadores que trabalham nestes setores não está e tampouco estará preparada para esta mudança, que acontece de maneira mais acelerada que sua capacidade de adaptação.

A esse fenômeno que provoca o chamado desemprego tecnológico denominamos de falha de mercado – que é uma situação na qual a lei de oferta e procura leva a resultados que não são eficientes – que podem ser melhorados do ponto de vista da sociedade.

Então é preciso fazer com que estes trabalhadores sejam incluídos na distribuição dos benefícios advindos dos processos de tecnificação. Somente processos de capacitação desta mão-de-obra não darão conta de resolver a situação. A forma de inclusão é pela redução da jornada de trabalho em setores intensivos na utilização de  tecnologias economizadoras de mão-de-obra.

Como cada setor produtivo tem peculiaridades específicas em termos de assimilação tecnológica, precisamos de uma legislação que contemple a automática redução da jornada de trabalho naqueles setores que mais substituem trabalhadores por máquinas.

Tal medida permitirá transferir parte dos benefícios conquistados pelo aumento da produtividade aos trabalhadores tanto pela redução da jornada de trabalho quanto pela criação de postos de trabalho no mesmo setor em que a substituição foi realizada.

Evidente que será preciso desenvolver uma métrica que permita identificar a relação entre aumento da produtividade e redução na jornada de trabalho, e incluir tal medida na nossa legislação trabalhista.

O setor industrial vai se manifestar contrário a tal medida, argumentando mais um entrave para a livre iniciativa. Mas é uma medida voltada justamente garantir a sobrevivência do modelo capitalista de produção, da mesma forma que a legislação voltada a preservação ambiental. Sem recursos naturais não tem indústria e sem empregos não há para quem vender.

A peleja não deve ser contra as máquinas e sim que haja a inclusão de todos, nos benefícios advindos do aumento da produtividade pela tecnificação.

Pensa nisso, Nos vemos na próxima coluna e até lá, se cuida.