19 de setembro de 2022

2022/09/19

Olá, meus caros.

O parlamento da União Europeia aprovou semana passada (13), projeto de lei que impõe sanções comerciais a países que desmatam. Tais sanções consistem em barreiras tarifárias a produtos agrícolas que tenham sido cultivados em locais recentemente desmatados. Entram nesta lista carne bovina, suína e de frango, cacau, soja, café, milho, couro, papel e até móveis.

A lista atinge 80% das exportações do agronegócio brasileiro ou 40% do total das exportações para a União Europeia, que totalizaram US$ 14,5 bilhões em 2021 para o bloco. Mas a meu ver, esta medida tem potencial de impactar negativamente muito mais a eles que a nós mesmos. Sem misturar uma coisa com a outra, chamo a atenção às sanções que foram impostas à Rússia com resultados, no mínimo discutíveis.

Digo isso porque, as decisões e planos de boicote contra a compra de petróleo, carvão e gás russos em resposta à invasão da Ucrânia com o pretenso objetivo de dissuadi-la da guerra ao impor-lhes duras percas econômicas e está se mostrando um enorme fiasco.

Com o embargo europeu a Rússia se voltou para o mercado chines e indiano e com a disparada do preço do petróleo as empresas Russas terão os mais altos dividendos em toda a sua história. A moeda russa o Rublo chegou a uma desvalorização de 100% , mas a tendência se reverteu e o rublo está 17% mais alto que em 01 de janeiro.

Em retaliação às sanções impostas, a Rússia suspendeu o fornecimento de gás para vários países da EU, obrigando várias empresas, especialmente as alemãs, a desativar a produção. A inflação anual da União Europeia foi de 10,1% em agosto, e a população se prepara para um inverno sem calefação.

Agora, voltando a nossa situação. Sob o pretexto de uma ação contra o desmatamento, a EU vai sobretaxar produtos que não comprovem ter origem em área não desmatada havendo então a necessidade de rastreabilidade dos produtos da fonte até o destino.

Os produtores rurais brasileiros, tanto agricultores, florestais, pecuaristas, extrativistas etc., preservam no interior de seus imóveis rurais, conforme relatório da Embrapa, um total de 218 milhões de hectares, o equivalente à superfície de 10 países da Europa.

Do território nacional quase 500 milhões de hectares de florestas nativas preservadas, o que representa 58% do total. Enquanto isso, Alemanha, França e Estados Unidos têm apenas um terço da cobertura vegetal intacta.

Estima-se que mais de 90% da produção agropecuária brasileira é feita de forma sustentável. E sem tapar o sol com a peneira é fato que houve ações desastrosas de desmatamento na Amazônia – o que precisa ser coibido com o devido rigor.

Agora, embora tragam elevação de custos para os produtos brasileiros pela necessidade de comprovar o que já é praticado, os maiores prejudicados serão os próprios europeus, que precisarão conviver com alta nos alimentos, em tempos já bem complicados.

O propósito aqui não é comparar conflitos bélicos e produção de alimentos, mas questionar a forma pela qual tentam debelá-las. Entendo que como disse nosso embaixador Pedro Miguel “O melhor caminho para combater o desmatamento é a cooperação para trabalhar juntos”.

Pensa nisso, te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR.