Olá, meus caros.
Pesquisa mensal da Confederação Nacional do Comércio (CNC), mostra que o endividamento bate recorde em setembro e atinge 8 em cada 10 famílias. A situação é pior nos lares com renda inferior a 10 salários-mínimos, onde o endividamento superou os 80% pela primeira vez.
É preciso um olhar um pouco mais atento para entender por que a inadimplência atinge especialmente os mais pobres e que políticas poderiam sem aplicadas para minimizar tal situação.
Sempre é preciso ter cuidado ao analisarmos números para interpretá-los corretamente. Primeiro é necessário lembrar que não são 80% das pessoas e sim 80% das famílias que estão com dívidas. Se na família são 4 pessoas e apenas 1 estiver endividada, a pesquisa computa a família.
O segundo ponto é que endividado não quer dizer inadimplente. Contrai dívidas o consumidor que, tendo acesso a crédito, antecipa a aquisição de um bem ou serviço, portanto, não é um mal em si. Não conseguir honrar o pagamento deste crédito na data estipulada é onde está o problema.
Então o indicador que preocupa não é exatamente o total de endividados, mas o total daqueles que tendo dívida, não estão conseguindo pagá-las.
E é justamente as famílias de menor renda que estão encontrando mais dificuldades em quitar estes compromissos financeiros assumidos. São duas causas principais que podem ser apontadas:
Alta da inflação, especialmente a alta nos alimentos que atinge em cheio as famílias de mais baixa renda, pois estas dedicam uma parcela maior de seus ganhos para comer. Se precisam gastar mais com a alimentação faltará dinheiro para pagar prestações.
Mas muitos analistas deixaram de perceber um segundo fenômeno importante para entendemos a maior incidência de inadimplência nas rendas menores. Em meio à crise da Covid-19, tivemos uma disparada no número de bancarizados: de janeiro de 2020 a junho de 2021, 38 milhões de brasileiros abriram a primeira conta bancária, impulsionados especialmente pelo pagamento do Auxílio Emergencial.
Bancarização é basicamente a inclusão das pessoas ao sistema bancários, possibilitando que elas possam usufruir de serviços financeiros e tenham acesso a crédito.
Estes novos bancarizados, muitas vezes não se dão conta que passam a ter acesso a crédito muitas vezes superior à sua capacidade de solvência na medida que são abertas inúmeras linhas de financiamento, a começar pelo cartão de crédito.
Tão logo são ‘descobertos’, estas pessoas passam a receber ligações, de agentes bancários, com todo tipo de proposta para tomarem crédito. A percepção de que se te oferecem é porque você pode pagar, somado a retórica persuasiva de pessoas nem sempre escrupulosas, que impondo um caráter de urgência para a definição, empurram estas a um processo de superendividamento e consequente inadimplência.
A bancarização, inquestionavelmente um processo de inclusão social, precisa vir acompanhada de medidas voltadas à educação financeira aos novos integrantes, leis rígidas que inibam o assédio desmedido dos ofertantes de crédito e um sistema mais adequado de limitação ao endividamento. Entendendo isso teremos maior convicção para demandarmos de nossos representantes, ações neste sentido.
Pensa nisso, te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR.