21-03-22_-_ECONOMIA_PARA_TODOS
Olá meus caros. Na coluna passada abordei os impactos que a guerra envolvendo Rússia e Ucrânia podem nos trazer. Hoje busco dar mais detalhes da implicação que teremos na nossa cesta básica de alimentos.
A análise feita aqui é puramente econômica e não um juízo de valor em relação a retaliação comercial imposta à Rússia pelos países europeus e Estados Unidos. Entendo como de vital importância analisar e divulgar como seremos afetados para que possamos nos preparar para os desafios que teremos ao longo dos próximos meses.
A Rússia é o 3º maior produtor de petróleo do mundo e em função do embargo dos EUA sobre o petróleo russo, o preço internacional do barril está em disparada, o que levou a Petrobras a praticar um forte aumento dos preços de seus derivados: 18,8% na gasolina, 24,9% do diesel e 16,1% no gás de cozinha.
Além do aumento para quem vai abastecer seu carro, teremos um efeito em cascata que se alastrará por toda a economia uma vez que temos uma alta dependência do transporte rodoviário para o deslocamento de mercadorias, especialmente as perecíveis como o tomate, a banana e a batata, itens que compõe nossa cesta básica de alimentos.
Embora os combustíveis sejam o principal canal para o elevação dos custos no Brasil, não são o único. Um olhar sobre nossa pauta de importações mostra que 85% dos fertilizantes utilizados em nossa agricultura vem de fora e a Rússia é nossa principal fornecedora.
O sistema de dados do comércio exterior brasileiro, revela que no ano passado o Brasil importou US$ 3,5 milhões em adubos e fertilizantes da Rússia, representando 62% de tudo o que importamos deles.
Nossos estoques de fertilizantes duram até junho e sem o produto russo teremos menor oferta e consequente elevação nos preços, com potencial de afetar a produção agrícola, e o repasse do aumento de custos para o produto é inevitável.
E não é só isso. Rússia e Ucrânia atendem 30% das exportações globais de trigo e praticamente 20% do milho. A falta desta produção eleva o preço no mercado internacional, e afeta também o preço da soja - substituto eventual do milho na produção de óleo vegetal e ração animal.
Como consequência natural, veremos a elevação no preço do óleo de soja, da margarina, da farinha de trilho e do pão. Com o custo mais elevado para alimentar o gado, teremos também mais elevação no preço da carne, tanto da vermelha quanto da de frango.
Então, dos 13 produtos que compõe a cesta básica de alimentos, 9 sofrerão impacto direto e significativo em seus preços justamente quando o salário-mínimo atinge seu pior poder de compra em número de cestas básicas dos últimos 15 anos.
Em fevereiro, portanto antes dos impactos da guerra, o salário-mínimo em Londrina adquiria 2,1 cestas, que é 9% menos poder de compra que o 2º pior fevereiro do período que foi em 2015, quando o salário-mínimo comprou 2,3 cestas.
Teremos uma percepção melhor do drama vivido pelas pessoas de menor renda no final deste mês quando o NuPEA – Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas da UTFPR, trouxer o valor médio da cesta básica aqui em nossa cidade. Então, o momento é de atenção e cautela.
Pensa nisso. Te vejo na próxima coluna e até lá, se cuida.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR.