10 de abril de 2023

https://radio.uel.br/coluna/brasil-e-china/2023/04/10

Olá, meus caros. Algumas notícias da economia tem pouca repercussão à despeito do impacto que podem causar. Chamo a atenção para o acordo comercial entre Brasil e China, que começará a vigorar a partir de julho, que prevê que as transações entre ambos possa se dar diretamente em suas próprias moedas.

É uma promessa de estreitamento entre as duas economias que poderá impulsionar o intercâmbio comercial, reduzir os custos das transações e diminuir a dependência do dólar. Por essa razão vale a pena dar atenção a este acordo

China é nosso maior parceiro comercial. Em 2022, 26,8% de nossas exportações tiveram como destino a China, o que representou US$ 89,4 bi, e compramos deles 22,3% de tudo o que importamos, ou US$ 60,7 bi, portanto um fluxo comercial Brasil-China de US$ 150 bilhões no ano passado.

A título de comparação, nosso segundo maior comprador são os EUA, para onde em 2022 exportamos US$ 37,4 bi, e compramos deles US$ 51,3 bi. Portanto negociamos com a China do dobro do que com nosso 2º maior parceiro comercial.

Atualmente as negociações são realizadas em dólar sendo necessário primeiro realizar o câmbio para a moeda americana para depois efetivar a liquidação da transação, gerando custos que poderiam ser evitados caso negociassemos em suas próprias moedas.

Para que as transações entre ambos possa a ser realizado em suas próprias moedas, foi assinado em fevereiro, um acordo entre o Banco Central da China e o Banco Central do Brasil, que prevê a compensação em Renmimbi. Aqui um esclarecimento. Renmimbi é o nome da moeda oficial da China enquanto Yuan é o nome dado ao dinheiro em circulação.

Tal compensação será executada por instituições cadastradas para operar no Cips – acrônimo de China Interbank Payment System, ou sistema de pagamento interbancário da China.

E já temos o primeiro autorizado. Um Acordo assinado no final de março, torna o banco Bocom BBM a primeira instituição financeira da América Latina a aderir ao Cips e, portanto, a primeira a poder ser utilizada pelas empresas que tiverem interesse em transacionar utilizando o Renmimbi, já a partir de julho.

Conforme o Banco Central brasileiro, este novo arranjo tem como vantagem o aumento da liquidez local da moeda chinesa, a manutenção de reservas cambiais em moeda forte no país, redução de intermediários internacionais, e maior eficiência com redução de custo e tempo.

Os principais setores que se beneficiam de acordos comerciais entre Brasil e China são de soja, tecnologia, infraestrutura, minérios e óleo e gás. Além disso, carnes, tecidos e itens farmacêuticos também fazem parte dos mercados beneficiados.

E ótimo o acordo para a China também. A China é a maior nação comerciante do mundo, mas transaciona utilizando a moeda de outro país. O objetivo da China é poder usar sua própria moeda e ganhar força política na corrida pela economia mundial.

Então, o uso do dólar como moeda do comercio internacional pode não estar com seus dias contados, mas a instauração de um mundo pluri-monetário pode fazer pender o eixo da importância geopolítica de forma mais acelerada para o gigante asiático.

Pensa nisso. Te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.