07 de novembro de 2022

2022/11/07

Olá, meus caros.

Os dois últimos meses devem encerrar 2022 com resultados, muito melhores que a maioria de nós, economistas, havíamos imaginado no inicio do ano. Um PIB que pode alcançar 3% de crescimento, taxa de desemprego em 8,7%, a menor desde 2015, inflação caindo, dólar se mantendo estável nos R$ 5,20 com retomada do setor de serviços e bons números do setor exportador.

Mas para 2023 o cenário é outro, com desaceleração do crescimento e volta das dificuldades para o emprego e a renda. E isso tem pouco ou nada a ver com quem ganhou no pleito eleitoral.

Era uma situação já configurada e qualquer dos candidatos que disputaram o cargo de presidente do país se depararia com esta mesma situação. A forma de seu enfrentamento determinará o quão o governo será bem-sucedido em nos tirar deste imbróglio.

Esta percepção se baseia em alguns fatos. Primeiro - a retenção dos preços com base no artifício da redução do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica que vigorará até dezembro, dificilmente será reeditada, pois além de considerada inconstitucional, os estados não teriam como absorver essa renúncia de receita.

Por outro lado, a aprovação da manutenção do valor de R$ 600 para o benefício mensal pago a famílias em situação de vulnerabilidade, embora defensável, é uma injeção de recursos que vai pressionar mais ainda os preços.

Com isso, retomada da alíquota de ICMS e mais dinheiro para quem tem propensão ao consumo fará com que a inflação, que apresentou recuo entre julho e setembro, ganhe os ingredientes necessários para vir com mais força.

Veja também que a relação dívida pública/PIB, que é usada para medir a saúde financeira dos países, que havia caído para 77,5% em setembro de 2022, ultrapassará os 82% ao final de 2023 pela necessidade de encontrar espaço orçamentário para os programas assistenciais do governo e aumento do salário-mínimo.

A piora nas contas públicas e inflação em elevação jogando contra o Banco Central, este precisará manter as taxas de juros elevadas por mais tempo, fazendo o papel de vilão, mas fundamental para não permitir uma explosão inflacionária.

Taxas de juros mais elevadas, tem exatamente este propósito – desviar dinheiro que iria para o consumo das pessoas e das empresas, que agora vão para a compra de títulos do governo segurando a pressão sobre os preços.

Mas isso também significa queda nos gastos com investimentos que trará como resultado: queda na produção nacional e consequente diminuição na geração de empregos.

Enfatize-se que esta situação já estava ‘contratada’ e não se apresentaria melhor com este ou aquele governante subindo ao poder.

O processo eleitoral já passou e democraticamente elegemos quem estará a frente do executivo federal. Deixemos de lado o quanto pior melhor como argumento de defesa de posições.


Precisamos ter a noção real da situação e cada um fazer a sua parte para juntos, superarmos estes obstáculos.

 

Pensa nisso, te vejo na próxima coluna e até lá se cuida.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR.