Embora pareça absolutamente distante e a maioria de nós precise recorrer ao mapa mundi para identificar onde está ocorrendo o conflito bélico deflagrado pela Rússia contra a Ucrânia, os efeitos de tal ataque trará consequências bem palpáveis para todos nós.
No momento que o Banco Central busca aplicar medidas que contenham um processo de inflação crescente e sua consequente diminuição do poder de compra das pessoas e perda do dinamismo econômico, o cenário exterior tem potencial para colocar por terá este esforço.
A ação do Banco Central ...
Com o aumento seguido da taxa básica de juros, atualmente em 10,75% ao ano e a percepção do investidor estrangeiro de que as ações negociadas em bolsa no Brasil estão baratas, vimos enorme ingresso de dólares na nossa economia em 2022.
... ajudou a apreciar o real...
Tal entrada de dólares derrubou a cotação da moeda americana de R$ 5,7 em 06/01 para R$ 5,0 na última terça-feira (22), uma valorização do Real frente ao dólar de 14% em menos de 50 dias.
... dando condições para conter a inflação.
Um Real apreciado abaixa o preço dos produtos que podem ser vendidos tanto no mercado interno quanto no mercado externo pois o ofertante passa a receber menos Reais na exportação. Ao mesmo tempo deixa mais barato os produtos e insumos importados reduzindo nosso custo de produção.
Mas investidor é arisco...
No entanto, tão logo foi deflagrado o conflito bélico na Europa, a aversão ao risco do investidor global foi buscar refúgio em ativos considerados seguros, como a moeda americana e em 3 dias o Real foi depreciado em 1,55% frente ao dólar.
e isto é só parte do problema...
A Rússia fornece 41% do gás e 33% do petróleo consumido pela União Europeia. A retaliação dos países ocidentais é de ordem econômica buscando sufocar o país impedindo que venda seus produtos.
... pois dispara o preço do petróleo...
Desnecessário dizer que estão martelando no próprio pé pois terão que compra-los de outros produtores, fazendo explodir o preço no mercado em um momento que o mundo já vive sua maior inflação dos últimos 40 anos.
... de forma instantânea.
Na quinta-feira (24) o petróleo Brent chegou a ser negociado a US$ 105 o barril, lembrando que dia 03/01 fechou cotado a US$ 78,8, aumento de 33%.
Fazendo um exercício...
Agora imagine se o dólar chegasse na cotação do dia 06/01 a R$ 5,7 e o petróleo fosse comprado a US$ 105 (máxima em 24/02) e compare com o dólar na cotação de hoje (R$ 5,1) e o preço do barril de petróleo na cotação de janeiro a US$ 78,8.
... para quem não quer usar a calculadora.
A diferença entre comprar o barril de petróleo na cotação de hoje ao preço de janeiro e comprar o mesmo barril ao preço de hoje na cotação de janeiro é de 51,9%.
O efeito é generalizado...
Os combustíveis afetam a inflação de forma direta, percebida quando abastecemos o carro, mas também de forma indireta, pois todos os produtos, de uma forma ou de outra, tem na sua formação de custos o preço dos combustíveis.
... e absolutamente impactante.
A cada 1% de aumento nos combustíveis há impacto de 0,07% na inflação. Então, somente esta situação calculada acima, e absolutamente possível de ocorrer, representa aumento de 3,6% na inflação.
Então, oremos.
Tanto para preservar vidas humanas - o mais importante, quanto para não complicar mais ainda nossa situação econômica, que as cabeças sejam iluminadas para que este conflito tenha fim imediatamente.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.