A discussão do almoço de domingo de Pascoa girou em torno do porque, quando o dólar sobre os combustíveis sobem mas quando o dólar se desvaloriza os combustíveis não descem.
Antes de atribuirmos este fenômeno a um complô das forças do mal, é possível fazer uma análise nos números para uma melhor compreensão deste fenômeno, que tenho certeza, chama a atenção de todos que estão preocupados com a disparada no preço dos combustíveis.
Preocupação legítima ...
A gasolina é o item que mais pesa no cálculo do índice oficial da inflação, o IPCA e responde por cerca de 6% do indicador. Mas é o diesel o maior responsável por encarecer todos os demais preços, já que os produtos precisam chegar às prateleiras e a grande maioria deles chega pelo transporte rodoviário.
... com o preço do petróleo...
Daí vem a preocupação com o preço do petróleo, que em dez/2019 estava em UU$ 66, quando aparecem os primeiros sinais da pandemia. Atingiu seu menor valor em abr/2020 a US$ 22, chegou novamente aos US$ 66 em mai/2021 e vem em altas constantes batendo em março deste ano a US$ 116.
..., que varia pela demanda ...
Sendo o petróleo uma commodity, o preço está atrelado às leis globais de oferta e demanda. Vencida a parte mais grave da pandemia, as economias mundiais começam a se recuperar e a demanda por petróleo faz com que seus preços disparem.
..., pela oferta...
E a guerra na Ucrânia, levou vários países a utilizar a retaliação econômica como arma contra a Rússia, impondo embargos ao seu petróleo, lembrando que é 3º maior produtor mundial. Como consequência: menor oferta e mais pressão sobre os preços.
... e pelo valor do dólar.
Não somos autossuficientes em combustíveis e importamos parte do que consumimos, o que justifica o atrelamento de seu preço também às variações cambiais.
Daí a questão colocada ...
E de fato, parte dos aumentos dos combustíveis tem sido justificados pela desvalorização do Real frente ao Dólar. Mas o dólar caiu de R$ 5,7 em janeiro para R$ 4,8 agora. Então: por que a preço dos combustíveis não caiu pelo menos na mesma proporção?
... e sua resposta.
Sim, o dólar recuou 15,8%, no entanto o preço dos combustíveis não caiu respeitando essa queda simplesmente porque o preço do barril de petróleo subiu de US$ 85 para US$ 115, ou 35%, no mesmo período. Desta forma, a queda no dólar não foi suficiente para absorver a alta do barril de petróleo.
Combustível versus petróleo ...
Mas é interessante fazer uma comparação com a situação imediatamente anterior à pandemia. Em dezembro de 2019 o petróleo estava em US$ 66 e o diesel era negociado na refinaria a R$ 2,20. A cotação do dólar estava em R$ 4,03; portanto o barril de petróleo em reais custava R$ 266,00.
... com base em dez/2019 ...
Em abril deste ano o petróleo iniciou o mês a US$ 105 e o diesel negociado na refinaria a R$ 4,52. Então para ter a equivalente do preço de dez/2019 o dólar precisa estar cotado a R$ 5,20. Acima deste valor significa que o diesel está mais barato na comparação e vice-versa.
... o diesel poderia ser menos ...
Não levando outros fatores em consideração, com o dólar cotado na sexta-feira (22/04) a R$ 4,80, o preço do diesel praticado na refinaria deveria ser R$ 4,16 ou 8% menos que o valor atual.
... e a gasolina também.
Com base nos mesmos parâmetros e considerando que a gasolina em dez/2019 na refinaria estava a R$ 1,93 e atualmente está em R$ 3,84, seu preço é 4,7% maior do que o que poderia estar.
Não é muito, mas ajudaria.
Se usarmos como referência os valores de dezembro de 2019, o preço do diesel está 8% mais caro do que poderia e o gasolina 4,7%. Estão há espaço sim para a redução do preço dos combustíveis, embora seja bem menos do que gostaríamos que fosse.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.