É tema recorrente nesta coluna, a análise do papel dos Bancos Centrais na busca de impedir um processo de inflação suas nefastas consequências.

Se bem entendidas as causas da inflação, não é difícil perceber que algumas decisões econômicas tomadas em outras instâncias do governo, podem atrasar seu controle.

A demanda ...

A soma de todos os bens e serviços que são procurados para atender a uma necessidade é chamado genericamente de Demanda.

... por produtos finais ou intermediários ... 

Importante ter em conta que a demanda pode ser tanto para consumo final quanto para insumos que serão utilizados na produção de novos bens e serviços. Portanto, investimento na produção também é demanda.

... deve estar equilibrada ... 

Quando a quantidade de dinheiro disponível para a compra destes produtos é igual à soma de seus preços, a balança está equilibrada e os preços se mantem estáveis.

... ou desestabiliza os preços ...

Situações em que a quantidade de dinheiro é maior que a soma do preço dos produtos leva a uma tendência ao reequilíbrio, ou seja, os preços vão subir para equalizar a quantidade de dinheiro à quantidade de produtos. A isso chamamos inflação.

... com impacto sobre nós consumidores. 

Tal desequilíbrio pode ocorrer tanto no mercado de bens intermediários quanto no de produtos finais, mas venha de onde vier, a conta será paga pelo consumidor final.

Por diferentes causas ... 

Este desequilíbrio pode ter várias causas: uma seca que reduz a produção agrícola, uma decisão da OPEP em reduzir a produção do petróleo, uma guerra que encareça o preço dos fertilizantes, ou a liberação de mais dinheiro que a quantidade de produtos disponíveis.

  ... e compete ao BC o seu controle. 

É papel dos Bancos Centrais do mundo buscarem reequilibrar a quantidade de dinheiro disponível para a compra de produtos a fim de impedir a progressão de um processo inflacionário.

A lógica dos juros altos...

Entre as ferramentas para conter tal processo, a que se mostra mais eficaz é a de aumentar a taxa de juros pagos a quem empresta dinheiro para o governo. Assim, fica mais atrativo emprestar o dinheiro que utilizá-lo para consumo final ou investimentos na produção.

... para inibir o consumo...

Como consequência, os juros subirão também para quem quer pegar dinheiro emprestado, qualquer que seja a destinação que pretenda dar a ele.

... e desacelerar a economia ...

A ideia é ‘esfriar’ a economia para que a quantidade de produtos seja igual ao dinheiro disponível para sua compra. Portanto não faz sentido perguntar se juros elevados arrefecem a economia, pois é justamente esta a proposta.      

... encontra resistência ...

Agora, quando o BC tenta conter o consumo e medidas em outras instâncias do governo trabalham no sentido inverso, é de se perguntar se seria a forma mais adequada de atuar na economia.

... em vez de apoio.

Queremos todos, juros baixos que facilitem o consumo e o investimento, mas é de se pergunta se o momento oportuno é agora, quando o Banco Central trava uma batalha enorme para refazer o equilíbrio perdido.

Uma sinalização errada.

Se não houver um comprometimento legítimo com a redução da inflação por parte do governo, as expectativas dos demais agentes econômicos apostarão em aumento da inflação e consequente manutenção ou elevação nas taxas de juros.

E isso não é bom.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.