Um dos principais indicadores de uma economia saudável é seu equilíbrio entre a capacidade de produzir e a capacidade de consumir. E uma das variáveis a manter este equilíbrio é a forma com que a renda está distribuída entre a população. Quando mais aumenta a concentração de renda para um lado da balança, mais comprometido fica este equilíbrio.

Tentar subir um prédio com sua base em desequilíbrio, é iminência de desastre. Na economia sucede o mesmo. E o Brasil, embora tenha evoluído neste quesito, ainda está muito distante das economias mais avançadas.

A Pnad contínua ...

O IBGE busca fornecer informações atualizadas sobre a população brasileira, suas características socioeconômicas e o mercado de trabalho e para tanto conduz de forma contínua a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) permitindo a obtenção de dados precisos e frequentes.

... possibilita calcular a distribuição da renda...

Com estes dados é possível identificar que parcela da renda fica com que parcela da população. Este cálculo é chamado de Índice de Gini.

... por meio do índice de Gini...

O Indice de Gini, em alusão a seu criador, o italiano Corrado Gini, é uma medida estatística utilizada para medir a forma com que a renda está distribuída entre determinada população. Ele varia de 0 a 1, quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade.

... que melhorou em 2022.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada no início do mês (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que o Brasil alcançou em 2022 seu melhor resultado em termos de distribuição da renda.

Resultado do aumento dos rendimentos ...

O índice de Gini em 2022 ficou em 0,518 situação superior a 2021 quando estava em 0,544, em função do rendimento médio mensal domiciliar per capita que apresentou elevação de 6,9% neste período saltando de R$ 1.484 para R$ 1.586.

... devido ao Auxílio Brasil e novos empregos... 

Esta melhora é atribuída a dois fatores: aumento do valor pago pelo Auxílio Brasil e a melhora no mercado de trabalho que gerou saldo positivo em 2022 de 2 milhões de novos postos de trabalho, somente considerando emprego formal.

..., mas a disparidade ainda é enorme...

Embora tenha apresentado melhora, a distribuição da renda no Brasil é alarmantemente injusta. Enquanto os 5% mais pobres tiveram renda média por pessoa de R$ 87 a renda média dos 5% mais ricos foi de R$ 6.882 ou 79 vezes maior.

... por qualquer lado que se mire...

A metade mais pobre da população fica com 17% de toda a renda enquanto a outra metade fica com os restantes 83%. Os10% mais pobres ficam com 1% da renda enquanto os 10% mais ricos ficam com 40,5% da renda.

... especialmente onde é ainda pior ...

No Estado da Paraíba, onde se encontra a maior desigualdade na distribuição de renda, com o Indice de Gini em 0,558 os 10% mais pobres ficam com 0,95% da renda enquanto os 10% mais ricos ficam com 47% dela.

Os melhores indicadores do mundo...

Os países que apresentam as melhores distribuições de renda são, pela ordem: Hungria (0,244), Dinamarca (0,247) e Japão (0,249).

..., mas é preciso cuidado...

O Indice de Gini é utilizado como referência de distribuição de renda, mas é preciso ter cuidado ao analisá-lo, especialmente se olhado de maneira isolada. A Etiópia, um dos países mais pobres do mundo tem um índice de Gini de 1º mundo, com 0,35 melhor inclusive que dos EUA (0,39).

... e identificar o que está sendo distribuído.

Lá o que é distribuído de forma igualitária é a miséria. Para ser equilibrado, não basta distribuir bem, é preciso produzir muito.

Cobrar mais dos ricos é parte da solução ...

Uma reforma tributária com impostos progressivos é parte fundamental na busca de equilíbrio, mas há outras causas deste desequilíbrio que precisam ser estudadas e contempladas.

..., mas há mais para fazer.

Isso fica evidente quando comparamos os resultados de Santa Catariana com a Paraíba. Sob o mesmo regime tributário, SC tem um Gini de 0,419 (melhor do país) contra os 0,558 de PB (o pior do país). Portanto, há mais coisas a serem feitas.


Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor na UTFPR. Escreve às segundas-feiras.