No entanto, quando considerada a inflação dos últimos 12 meses a faixa de renda média-alta foi a que sofreu o menor impacto enquanto a faixa de renda alta foi a que mais perdeu poder aquisitivo neste período.
Embora a perda de renda seja mais aflitiva nas rendas mais baixas, é interessante observar que, em termos absolutos, foram os mais ricos, aqueles que tiveram as maiores perdas.
Os produtos que entram na cesta de consumo de cada família estão associados diretamente a sua renda. Quanto menor a renda, maior é o percentual gasto com alimentos, enquanto rendas mais altas podem ter uma fatia maior destinada a planos de saúde e a transporte.
A divisão por faixa de renda...
O Ipea utiliza a seguinte estratificação por faixa de renda: muito baixa (menor que R$ 1.808,79), baixa (de R$ 1.808,79 a R$ 2.702,88), média-baixa (de R$ 2.702,88 a R$ 4.506,47), média (de R$ 4.506,47 a R$ 8.956,26), média-alta (de R$ 8.956,26 a R$ 17.764,49) e alta (maior que R$ 17.764,49)
... e a segregação por grupos de produtos ...
A análise considera a composição da cesta de consumo dividindo-a em 7 grandes grupos: Alimentos e Bebidas; Habitação; Artigos de Residência; Vestuário; Transporte e Comunicação; Saúde e Cuidados Pessoais; Despesas Pessoais.
... mostra os diferentes impactos...
No mês de julho apresentou uma deflação de 0,68%, a menor taxa da série histórica, iniciada em 1980, mas favoreceu mais a classe de renda média alta com recuo de -0,85% e de -0,34% para a classe de renda muito baixa.
... em função do que diminuiu de preço.
Essa diferença se deve em razão dos produtos que reduziram de preço. A deflação dos grupos ‘transportes’ e ‘habitação’ foram os que mais caíram, e por terem maior peso para as rendas mais altas, acabaram por beneficiar a estes. Já os alimentos, que impactam mais as famílias de menor renda, não tiveram recuo significativo.
Estrato intermediário foi o menos impactado.
Na análise da inflação dos últimos 12 meses por faixa de renda, observa-se que os extremos foram os mais impactados. A faixa de renda mais alta contabiliza inflação de 10,5%, enquanto a faixa de rendas mais baixa teve inflação de 10,4%. E quem melhor se sai nesta análise é a renda média-alta cuja inflação para o período foi de 9,7%.
Mas para os próximos meses...
O cenário mostra que os alimentos devem sofrer significativo recuo daqui para os próximos meses, tendendo a beneficiar a faixa de renda que proporcionalmente mais despende para comer.
... teremos queda no preço do leite ...
O leite, grande vilão da inflação dos alimentos já
apresenta redução de 17% no atacado, em função da retomada do regime de chuvas e queda na cotação das rações.
... da carne bovina ...
Também a carne de boi apresentará queda significativa no seu preço em função da maior oferta do produto no mercado em razão do crescimento do rebanho ocorrido nos últimos meses.
... , uma supersafra de grãos...
O Brasil colherá neste ano o equivalente a 1,2 tonelada de grãos por habitante. Isso indica redução no custo dos insumos para o gado, e vale lembrar que a carne representa mais de 40% na formação do preço da cesta básica.
... e redução no custo de transporte.
Com a redução no preço do diesel, o transporte dos alimentos para a gôndola dos supermercados também deve ajudar na redução dos preços finais.
São boas notícias, especialmente para as famílias mais vulneráveis.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.