O parlamento da União Europeia aprovou semana passada (13), projeto de lei que impõe sanções comerciais a países que desmatam.
As sanções consistem em barreiras tarifárias a produtos agrícolas que tenham sido cultivados em locais recentemente desmatados. Entram nesta lista carne bovina, suína e de frango, cacau, soja, café, milho, couro, papel e até móveis.
A lista atinge 80% das exportações do agronegócio brasileiro ou 40% do total das exportações para a União Europeia, que totalizaram US$ 14,5 bilhões em 2021 para o bloco.
Mas esta medida tem potencial de impactar negativamente muito mais a eles que a nós mesmos. Começo chamando a atenção às sanções que impuseram à Rússia.
Sansões aplicadas ...
As decisões e planos de boicote contra a compra de petróleo, carvão e gás russos em resposta à invasão da Ucrânia com o pretenso objetivo de dissuadi-la da guerra ao impor-lhes duras percas econômicas, está se mostrando um enorme fiasco.
... não reduziram os lucros ...
Com o embargo europeu a Rússia se voltou para o mercado chines e indiano e com a disparada do preço do petróleo as empresas Rosneft e Gazprom terão os mais altos dividendos em toda a sua história.
..., tampouco desvalorizou o rublo ...
As sanções monetárias como a desconexão do Banco Central da Rússia do sistema global de pagamentos (Swift) e o congelamento das reservas internacionais do país, levaram a moeda russa – o rublo, a uma desvalorização de 100%, mas a tendência se reverteu e o rublo está 17% mais alto que em 01 de janeiro.
..., mas fizeram a inflação disparar.
Em retaliação às sanções impostas, a Rússia suspendeu o fornecimento de gás para vários países da EU, obrigando várias empresas, especialmente as alemãs, a desativar a produção. A inflação anual da União Europeia foi de 10,1% em agosto, e a população se prepara para um inverno sem calefação.
A mesma lógica punitiva ...
Sob o pretexto de uma ação contra o desmatamento, a EU vai sobretaxar produtos que não comprovem ter origem em área não desmatada havendo então a necessidade de rastreabilidade dos produtos da fonte até o destino.
... que desconsidera o preservado ...
Os produtores rurais brasileiros (agricultores, florestais, pecuaristas, extrativistas etc. cadastrados no CAR) preservam no interior de seus imóveis rurais, conforme relatório da Embrapa, um total de 218 milhões de hectares, o equivalente à superfície de 10 países da Europa.
... especialmente comparado a eles ...
Do território nacional quase 500 milhões de hectares de florestas nativas preservadas, o que representa 58% do total. Enquanto isso, Alemanha, França e Estados Unidos têm apenas um terço da cobertura vegetal intacta.
..., mas sem negar onde erramos.
Estima-se que mais de 90% da produção agropecuária brasileira é feita de forma sustentável, mas também é fato que houve ações desastrosas de desmatamento na Amazônia – o que precisa ser coibido com o devido rigor.
Deveriam ter aprendido ...
Embora tragam elevação de custos para os produtos brasileiros pela necessidade de comprovar o que já é praticado, os maiores prejudicados serão os próprios europeus, que precisarão conviver com alta nos alimentos, em tempos já bem complicados.
... que a negociação é o melhor caminho.
O propósito aqui não é comparar conflitos bélicos e produção de alimentos, mas questionar a forma pela qual tentam debelá-las.
Entendo que como disse nosso embaixador Pedro Miguel “O melhor caminho para combater o desmatamento é a cooperação para trabalhar juntos”.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.