O instrumento mais utilizado pelos Bancos Centrais para conter a inflação é o aumento da taxa de juros, como fica evidenciado nas decisões tomadas por estas instituições, seja no Reino Unido, nos EUA ou na União Europeia.       

O princípio por traz do aumento a taxa de juros é o de tornar mais difícil e custoso os empréstimos, levando pessoas e empresas a consumir e investir menos, desacelerando a economia.

Mas enquanto nos EUA os juros subiram para 4,75%, no Reino Unido estão a 4%, na União Europeia a 3%, no Canadá a 4,5%, a taxa básica de juros no Brasil está em 13,75%. Por quê? 

Por que temos que aumentar mais nossa taxa de juros para obter os mesmos resultados? Em outras palavras: por que nossa política monetária é menos eficiente aqui que em outras economias?

Um desequilíbrio ...

A inflação, um fenômeno iminentemente monetários, é resultado de um desequilíbrio entre a quantidade de dinheiro disponível para consumo e a quantidade de produtos no mercado.

... que exige diminuir a demanda ...

Para conter a inflação o Banco Central, eleva as taxas de juros, tonando mais atrativo emprestar esse dinheiro para o governo do que gastá-lo. E se alguém quiser dinheiro emprestado terá que pagar mais por ele, desestimulando o consumo e o investimento.

... e aumentar a oferta.

Outro efeito da alta dos juros é atrair investidores estrangeiros, que trocam dólares por reais para comprar títulos públicos. Isso valoriza o Real, barateando as importações e tornando menos atrativo vender produtos nacionais lá fora, aumentando a oferta aqui dentro.

Mas precisa um tiro de canhão?

Por que nosso Banco central precisa elevar tanto a taxa de juros para obter os mesmos resultados que outras economias obtêm com taxas muito menores? Risco Brasil, risco cambial e a indexação dos títulos públicos ajudam a entender o porquê.

Apostar na economia brasileira ...

O risco Brasil é um indicador que sinaliza qual o perigo que o investidor estrangeiro está correndo caso queira investir aqui. A referência de base (risco zero), são os títulos americanos, atualmente em 4,75%.

...

... só se o risco compensar...

Então, o investidor estrangeiro para comprar títulos brasileiros precisa receber o mesmo que os títulos americanos acrescido de um percentual. Atualmente o risco Brasil está em torno de 250 pontos, ou seja, para emparelhar-se aos títulos americanos precisa pagar 2,5% a mais de juros ao ano.

.... e o câmbio não atrapalhar ...  

Além disso há o risco cambial que é o risco de o investidor incorrer em perdas em face da variação do câmbio. Imagine que alguém queira investir US$ 1.000 no Brasil. Ele precisará trocar seus dólares por Reais. Veja onde está a encrenca:

... sua expectativa de lucro.

Suponha uma taxa de câmbio a 5 x 1. Seu investimento será então de R$ 5.000. Um ano depois investindo com juros de, digamos, 20%. Terá acumulado R$ 6.000. Se ele for repatriar seu dinheiro e o câmbio estiver a 6,5 x 1, ele terá US$ 923 em vez de US$ 1.000 mais a rentabilidade.

Este risco também tem um custo, atualmente em torno de 1% sobre os juros americanos, que não apresentam risco cambial.

Uma economia ainda indexada...

Outro ponto que eleva nossa taxa de juros é a indexação. Indexação é a prática de alterar o preço dos produtos e serviços com base em índices. Dessa maneira, determinados itens são reajustados porque subiram no período anterior, carregando a inflação para frente.

... que fomenta a inflação inercial ...

Imagine que a alta de alguns preços faz a inflação subir. Essa inflação, em seguida, é usada para calcular o reajuste dos produtos e serviços que têm preço indexado. Como consequência, esses preços sobem – e, ao subirem, geram uma ‘nova inflação’, e isso vira um ciclo que se repete.

... e que não foi resolvido.

O Plano Real, criado em 1994, proibiu a indexação de contratos com prazo inferior a um ano. Acontece que uma boa parte dos títulos do governo (algo como 50% de toda a dívida federal) permaneceram indexados, ou seja, com rentabilidade vinculada a variação da inflação fica mais difícil ainda tentar controla-la.

Sabendo qual é o problema.

Portanto, controle das contas públicas, previsibilidade e efetiva desindexação da economia, devem ser o foco para derrubar a taxa básica de juros no Brasil.   


Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.